Esse negócio de escrever em blog é meio novo para mim, mas vou tentar, afinal de contas há muitas pessoas que querem saber um pouco das peripécias que eu e a Drica andamos aprontando por aqui. Não só isso, mas janeiro foi super complicado para mim e não consegui nem fazer uma festa de despedida, portanto achei que seria interessante iniciar com um post sobre a nossa mudança para cá. Alias, pela primeira vez eu não tive problema com a alfandega.
Acho que vale a pena começar com a confusão que foi tirar o visto. Alguns já ficaram sabendo do estresse, ou na verdade, da lentidão que é a burocracia sueca. Eu e Drica aproveitamos o fato de morar em Brasília para ir a embaixada tirar algumas dúvidas referentes ao pedido de visto. Bom a nossa primeira surpresa é que todo o processo era feito por papel, ou seja nada de preencher formulários na internet. A segunda, e mais complicada surpresa, foi o tempo que os Suecos demoram para de dar um visto - nada mais e nada menos do que 90 dias. Quando a moça nos informou eu devo ter feito uma cara de surpresa tão esquisita que ela veio me explicar o porque da demora. O motivo é que eles checam os nossos dados três vezes, primeiro a embaixada dá okay para o visto, depois o consulado e por último o “migration office” que fica na Suécia. Por isso eu e a Drica tivemos que entregar três cópias de tudo, um para cada “instância”. O melhor é que ela me informou que eles não usam a internet e nem o correio para mandar os documentos, tudo vai de mala preta, ou seja precisa ter um sueco para levar a papelada para o consulado e pior um sueco para viajar para Suécia para levar a nossa papelada. Por isso os noventas dias. Okay esse é o processo. Entretanto os suecos são bem pragmáticos e muito claros sobre a documentação que precisamos apresentar, no nosso caso a gente precisava comprovar que íamos ter a disposição 10 mil coroas por mês (7 mil para mim mais 3 mil para Drica que é a minha esposa) mais a carta do orientador sueco. Ai entra o primeiro pepino, eu sou bolsista portanto não tenho comprovante de renda e o segundo pepino é que se fosse usar dinheiro economizado tinha que estar em uma conta corrente no Brasil com uma carta do gerente dizendo o valor em dólares. Bom primeiro pepino foi resolvido com uma carta do coordenador da Pós dizendo o quanto é uma bolsa do CNPq em dólares, lembre-se que o processo demora 3 meses e o resultado da CAPES ia sair no fim de Novembro para eu ir em Janeiro, ou seja tive que dar um jeito de apresentar aos suecos que a gente tinha grana. O legal dos suecos é que eles aceitam a palavras das pessoas como verdade, imagina eu chegar em qualquer estabelecimento do Brasil com uma carta do meu coordenador, no mínimo iam pedir algum juramento de cartório, ou algo do tipo. Mas voltando as confusões... Então mil dólares (1.800 reias) não são 10 mil coroas, entretanto eu tinha travellers check de libra (alias um pesadelo trocar essa merda, mas fica para outro dia) mas não aceitavam, pois o dinheiro tinha que estar em conta corrente. Sorte nossa que tínhamos uma grana economizada e aproveito aqui para agradecer os amigos e familiares pelas bondosas doações que recebemos ao casar, sem elas eu ia ter que pedir para mamãe e papai enterrarem com o resto para conseguirmos esse bendito visto. Ah tive que adicionar uma carta minha dizendo o quanto a gente tinha em doláres, já que o Banco do Brasil não providencia uma declaração. Para isso usamos o site "currency converter", imprimimos todas as conversões e colocamos a data de acesso (pelo vistos os suecos não gostam de internet)
Os Suecos não estavam de brincadeira, após 90 dias exatos recebemos o nossos vistos, entretanto tivemos que atrasar a nossa ida em 30 dias o que resultou em outros tramites burocráticos, dessa vez com a CAPES. Vamos dizer que eu descobri que para conseguir uma bolsa sanduíche você não precisa ser o melhor aluno, ou como eu gosto de dizer, a última coca-cola do deserto, apenas ter uma grande qualidade, persistência e um saco bem grande para ir até o fim do processo.
Bom agora com o visto, passagem comprada, seguro de saúde para mim e para Drica (feito com o governo sueco pelo valor de 800 euros, tudo incluso “no matter the cost” e sem tempo de carência, ou seja mais barato e melhor que qualquer seguro de saúde do Brasil) e bolsa da capes só faltava achar um lugar para morar. É mas achar lugar para morar em Lund não é fácil não, a gente ficou mais de três meses tentando achar um lugar para morar e nada. Só de conseguir uma resposta a gente já ficava feliz, mas nunca conseguimos duas respostas seguidas. Faltando exatamente dois dias para embarcar o meu orientador me avisa que conseguiu um quarto para mim em uma nação. Aqui em Lund as nações disponibilizam quartos e apartamentos. Essas nações existem a muito tempo e a nação seria um “estado” sueco ou distrito algo do tipo (mais informações, para a felicidade do Renná, em http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Lund_University_nations#Active_nations ou http://en.wikipedia.org/wiki/Nations_at_Swedish_universities) . A universidade é muito antiga tipo do século XVII algo do tipo, e no passado remoto as pessoas moravam nas suas nações e pelo o que entendi essas nações são como grupos estudantis e tão velhos quanto a univerisdade de Lund (cruzes imagina um CABIO 300 anos atrás), mas vou ver se leio mais um pouco sobre isso. Antigamente as pessoas se filizavam a essas nações de acordo com sua procedência. Ou seja uma pessoa de Malmö iria morar com pessoas de Malmö, já que eram culturalmente parecidas e falavam o mesmo dialeto. As nações existem até hoje e eu fui parar em fevereiro na nação Smålands, diga se de passagem de maneira “ilegal”. O que o meu orientador arrumou para mim foi uma sub-locação. Bom o colega que me alugou o quarto me avisou que o “caretaker” dá uma zanzada no prédio então me aconselhou não ficar durante “working hours” no quarto para não dar chabu. A nação é bem divertida e fiquei em um quarto que eles chamam de “corridor room”, me senti dentro de uma caravela já que era exatamente isso um corredor com um monte de quartos e eu dividia o chuveiro e a cozinha com mais 7 pessoas. O banheiro com um Finlandês muito louco que acabou se tornando meu amigo e nosso professor de sueco. Essa nação também é conhecida por ser socialista/anarquista, entretanto descobri mais tarde que o cara que escolhe as pessoas que moram na nação não gosta de estrangeiros (go figure it). Mas um motivo para não dar bobeira, mas com o passar do tempo acabei relaxando e o “caretaker” me descobriu uma dia antes de me mudar para o meu atual apartamento. Inventei uma ladainha que era amigo do cara e tal e que estava no quarto por uma semana. Acho que nem deu problema já que aqui na Suécia é normal ter sub-locação dos locais e tal. Agora para alguns fatos o aluguel do quarto foi de 2242 coras o equivalente a 560 reias, com internet (alias acho que vou deixar a Drica explicar como é difícil conseguir internet). Consegui sobrevier com 5 mil coroas esses mês, aproveitei que estava solo para economizar uma graminha para ajudar a montar o apartamento quando a Drica chega-se. Tudo bem que isso resultou em a Drica descobrir alguns ossos a mais em mim e tomar uma bronca fenomenal por estar magro demais, achei que ela ia gostar do meu corpitchu modelinho Sueco!
UFA que post grande, olha que eu ainda nem falei do pássaro que cagou em mim, da relação de amor e ódio da Drica com o frio, da lojinha do governo que vende álcool, da nossa primeira experiência legitimamente sueca (fomos ao IKEA), das nossas perambuladas em Copenhagen, da briga entre a Drica e a cortina, dos dois capiais tentando entender como lava a roupa no porão comunitário, do novo brinquedinho da Drica que vem com GPS e da vida em geral aqui em Lund. Alias nos estamos nos divertindo muito aqui em Lund e quem quiser aparecer aqui é só avisar, mas como a casa é pequena estamos na política de garantir um chão quentinho para quem se manifestar primeiro.