domingo, 27 de março de 2011

Beverage Schedule

Talvez a maioria de vocês já saiba disso, mas para alguns vai ser uma novidade. Aqui na Suécia a venda de bebida alcóolica é restrita e no supermercado você só consegue comprar cervejas com até 3.5% de álcool e os bares um pint custa em torno 20 reias. Ou seja, para comprar bebida de verdade por um preço razoável você precisa ir na lojinha do governo chamado de “Systembolaget”, tradução para o português é “companhia de sistema” vai entender.

Há algumas vantagens e desvantagens do governo sueco ter o monopólio da venda de bebidas alcóolicas. Uma vantagem para os tomadores de vinho é que os vinhos aqui são bem mais baratos do que no Brasil, inclusive os vinhos chilenos e argentinos, pois eles devem conseguir um bom desconto dos vinhedos já que devem comprar toneladas de uma só vez. Entretanto, para os apreciadores de cerveja como eu, a cerveja não é tão mais barata do que no Brasil e infelizmente a variedade não é muito grande, mas ainda assim é muito maior do que no Brasil. Eu particularmente gosto das Ales e já encontrei uma Indian Pale Ale muito boa, mas custa em torno de 5 reais o pint. Para se ter uma idéia a gente tomou um Bourjelais por menos de 20 reias (em torno de 16 reais), logo percebe-se que compensa mais tomar vinho, ainda mais que a gente está vivendo apenas com a bolsa da CAPES no momento, que infelizmente não é lá essas coisas (ouviu DILMA!) e é menos do que uma bolsa de doutorado sueca.

Mas voltando ao assunto da lojinha. Bom a minha primeira visita a lojinha foi um pouco chocante. A ida iniciou com um certo medinho, será que vão pedir o meu passaporte? Será que vou ter que apresentar as minhas digitais? Qual deve ser o limite de álcool que eu posso levar comigo? Bom ao chegar na entrada da lojinha eu quase fui atropelado por vários suecos que entravam na loja meio desesperado, pensei comigo mesmo, vai ver que a loja deve estar fechando e tal, então fui olhar o horário. A loja abre de segunda a quarta das 10:00 até as 18:00 (ou seja nada de trabalhar até o fim do expediente se você quiser comprar uma cerva para levar para casa); quinta e sexta da 10:00 as 19:00 (vai ver que foi necessário um pouco mais de flexibilidade senão ninguém ia ficar na sexta até 18:00 no trabalho, jamé); e no sábado ela abre das 10:00 as 15:00 (porra sacanagem, eu preciso então saber o quanto vou beber no fim de semana assim que eu acordo no sábado!). Para minha sorte a loja ainda ficaria aberta umas duras horas, respirei fundo e fui atrás de cerveja.

Ao entrar na loja você percebe uma certa agitação das pessoas, o engraçado é que elas meio que já sabem onde estão as biritas delas, ou seja nada de ficar olhando com calma pesquisando e tentando descobrir o que o seu paladar vai querer beber. Eu particularmente me senti meio envergonhado ao entrar na loja, me senti meio alcoólatra um junkie querendo comprar substâncias controladas pelo governo, fiquei pensando “será que eles vendem GIM VICTORIA”. Bom vamos lá né, como um bom Lima, aproveitei para comprar um vinho Sul Africano e uma Pale Ale (essa só para iniciar a noite). Peguei uma enorme fila vi os suecos com caixas de cervejas e muitas garrafas de vinho, então creio que você pode levar o quanto quiser de uma só vez, ou consegue carregar. O cara do caixa falou "Hej" pediu e grana e pronto. Eba! Nada de mostrar passaportes ou testes de digitais. Ao sair da loja fiquei pensando, porque tantas camêras. Putz vai ver que agora estou no sistema sueco de segurança alcóolica, agora devo fazer parte do “systembogalet”.

Agora como sou bonzinho vou ensinar vocês a pedirem cerveja aqui:

Var så god en öl (pois somos educados né)

querendo duas "två öl"

querendo seis tenha cuidado pois é "sex öl"

"sju öl" é o q pessoal?



sexta-feira, 25 de março de 2011

O frio: amor e ódio.

Bom acho que eu devo ter reclamado ou falado muito sobre o frio, pois desde o meu primeiro post, todo mundo me pergunta como está o frio. Realmente o frio foi um choque para mim. Saí do Brasil passando mal de calor. Por mais que tivesse colocado a maior parte da roupa de frio dentro da mochila para trocar no avião, não dava para carregar a calça jeans e a bota na mochila. O aeroporto de Brasília não tem ar condicionado (ou parece não ter) o que piorou minha situação. Mas as pessoas que iam embarcar no mesmo voo estavam mais ou menos vestidas como eu, então fiquei tranquila.

Quando chegou perto de Lisboa, o povo começou a fazer o que o Rená me aconselhou: colocar a malha de frio dentro do avião. Foi um pouco complicado trocar de roupa naquele banheiro minúsculo, mas foi realmente melhor do que ter algum problema ainda em Brasília por causa do excesso de roupas. Mas havia uma diferença básica entre mim e os outros: meu casaco era absurdamente grande, de pena. Eu via as suecas/dinamarquesas com casacos bem mais sutis e cachecois escandalosamente grandes. Fiquei com medo de estar exagerando, mas pensei "elas estão acostumadas com o frio, eu não".

E foi exatamente isso que eu senti quando saí do subterrâneo, do metrô, em direção ao hotem, no bairro de Nyhavn - o frio mais frio que todo frio que eu já havia sentido. Mais frio do que andar de moto de madrugada pela ponte do Bragueto. Mas fiquei feliz, poi o hotel era perto da estação de metro ;). Mais tarde, fomos jantar e dar uma volta pelo bairro. Não sei se vcs perceberam, mas Nyhavn é um canal que dá para o mar. Eu estava sentindo frio, mas quando vi o mar congelado, fiquei desesperada. "Cara, tá tão frio que congelou o mar!" E era uma camada de gelo relativamente grossa. Tinham várias garrafas de cerveja em cima do gelo. Esse momento de desespero onde rimos por não podermos chorar, rendeu essa foto:



O Marcos tentou me confortar, dizendo que todos falavam que Copenhague era mais fria do que Lund, mas não deu muito certo, depois que ele tirou a foto eu falei "vamos comer em qq lugar, mas tem que ser agora!". Claro que o chilique tinha outra razão de ser, que eu vou ilustrar com um vídeo:



Depois que eu voltei a ser eu mesma comecei a pensar que o frio tinha coisas boas, como entrar em casa no quentinho, por exemplo. Mas ainda pairava uma dúvida cruel em minha mente "Como as pessoas podiam viver num lugar daqueles? Psychovikings?" Depois de quase um mês aqui eu descobri outras vantagens e desvantagens do frio que vou contar pra vcs:

VANTAGENS: quase não transpiramos e isso é uma vantagem para quem gosta de fazer exercícios. Por consequência, andar de bike tbm é algo viável. Vc não vai chegar no trabalho fedendo que nem um porco pq não transpira tanto. Eu particularmente tenho gostado mais de andar. Minhas pernas doem menos, eu ando mais rápido e canso menos. O cabelo fica divino e as roupas de inverno podem ser bem elegantes quando vc aprende a se vestir para o frio.

DESVANTAGENS: a sua pele fica um lixo, o frio resseca a mão, os pés, a pele... Só o cabelo fica bom mesmo. Seu nariz escorre sem sua autorização, vc tem que usar algo na cabeça e se fizer a mesma besteira do que eu, vai comprar uma touca linda de cashemere que coça horrores. Já é difícil sair de casa, quando chove então... a menos que vc tenha um compromisso formal, vai querer assistir tv, nem que seja em sueco (o bom é que eu posso usar isso como desculpa, afinal, a professora de sueco falou pra gente praticar, nem que fosse vendo TV). E a paisagem da cidade: cenário perfeito para qualquer filme de terror. Já pensei até no roteiro. Quando venta vc acha que vai ser congelado, a sensação térmica diminui sensivelmente.

Mas de qualquer forma, como a Lucy disse uma vez, as pessoas aproveitam bem mais o sol e o clima bom, afinal, elas quase não tem isso.

sábado, 19 de março de 2011

Burocrácia..Very...VERY SLOW!

Esse negócio de escrever em blog é meio novo para mim, mas vou tentar, afinal de contas há muitas pessoas que querem saber um pouco das peripécias que eu e a Drica andamos aprontando por aqui. Não só isso, mas janeiro foi super complicado para mim e não consegui nem fazer uma festa de despedida, portanto achei que seria interessante iniciar com um post sobre a nossa mudança para cá. Alias, pela primeira vez eu não tive problema com a alfandega.

Acho que vale a pena começar com a confusão que foi tirar o visto. Alguns já ficaram sabendo do estresse, ou na verdade, da lentidão que é a burocracia sueca. Eu e Drica aproveitamos o fato de morar em Brasília para ir a embaixada tirar algumas dúvidas referentes ao pedido de visto. Bom a nossa primeira surpresa é que todo o processo era feito por papel, ou seja nada de preencher formulários na internet. A segunda, e mais complicada surpresa, foi o tempo que os Suecos demoram para de dar um visto - nada mais e nada menos do que 90 dias. Quando a moça nos informou eu devo ter feito uma cara de surpresa tão esquisita que ela veio me explicar o porque da demora. O motivo é que eles checam os nossos dados três vezes, primeiro a embaixada dá okay para o visto, depois o consulado e por último o “migration office” que fica na Suécia. Por isso eu e a Drica tivemos que entregar três cópias de tudo, um para cada “instância”. O melhor é que ela me informou que eles não usam a internet e nem o correio para mandar os documentos, tudo vai de mala preta, ou seja precisa ter um sueco para levar a papelada para o consulado e pior um sueco para viajar para Suécia para levar a nossa papelada. Por isso os noventas dias. Okay esse é o processo. Entretanto os suecos são bem pragmáticos e muito claros sobre a documentação que precisamos apresentar, no nosso caso a gente precisava comprovar que íamos ter a disposição 10 mil coroas por mês (7 mil para mim mais 3 mil para Drica que é a minha esposa) mais a carta do orientador sueco. Ai entra o primeiro pepino, eu sou bolsista portanto não tenho comprovante de renda e o segundo pepino é que se fosse usar dinheiro economizado tinha que estar em uma conta corrente no Brasil com uma carta do gerente dizendo o valor em dólares. Bom primeiro pepino foi resolvido com uma carta do coordenador da Pós dizendo o quanto é uma bolsa do CNPq em dólares, lembre-se que o processo demora 3 meses e o resultado da CAPES ia sair no fim de Novembro para eu ir em Janeiro, ou seja tive que dar um jeito de apresentar aos suecos que a gente tinha grana. O legal dos suecos é que eles aceitam a palavras das pessoas como verdade, imagina eu chegar em qualquer estabelecimento do Brasil com uma carta do meu coordenador, no mínimo iam pedir algum juramento de cartório, ou algo do tipo. Mas voltando as confusões... Então mil dólares (1.800 reias) não são 10 mil coroas, entretanto eu tinha travellers check de libra (alias um pesadelo trocar essa merda, mas fica para outro dia) mas não aceitavam, pois o dinheiro tinha que estar em conta corrente. Sorte nossa que tínhamos uma grana economizada e aproveito aqui para agradecer os amigos e familiares pelas bondosas doações que recebemos ao casar, sem elas eu ia ter que pedir para mamãe e papai enterrarem com o resto para conseguirmos esse bendito visto. Ah tive que adicionar uma carta minha dizendo o quanto a gente tinha em doláres, já que o Banco do Brasil não providencia uma declaração. Para isso usamos o site "currency converter", imprimimos todas as conversões e colocamos a data de acesso (pelo vistos os suecos não gostam de internet)

Os Suecos não estavam de brincadeira, após 90 dias exatos recebemos o nossos vistos, entretanto tivemos que atrasar a nossa ida em 30 dias o que resultou em outros tramites burocráticos, dessa vez com a CAPES. Vamos dizer que eu descobri que para conseguir uma bolsa sanduíche você não precisa ser o melhor aluno, ou como eu gosto de dizer, a última coca-cola do deserto, apenas ter uma grande qualidade, persistência e um saco bem grande para ir até o fim do processo.

Bom agora com o visto, passagem comprada, seguro de saúde para mim e para Drica (feito com o governo sueco pelo valor de 800 euros, tudo incluso “no matter the cost” e sem tempo de carência, ou seja mais barato e melhor que qualquer seguro de saúde do Brasil) e bolsa da capes só faltava achar um lugar para morar. É mas achar lugar para morar em Lund não é fácil não, a gente ficou mais de três meses tentando achar um lugar para morar e nada. Só de conseguir uma resposta a gente já ficava feliz, mas nunca conseguimos duas respostas seguidas. Faltando exatamente dois dias para embarcar o meu orientador me avisa que conseguiu um quarto para mim em uma nação. Aqui em Lund as nações disponibilizam quartos e apartamentos. Essas nações existem a muito tempo e a nação seria um “estado” sueco ou distrito algo do tipo (mais informações, para a felicidade do Renná, em http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Lund_University_nations#Active_nations ou http://en.wikipedia.org/wiki/Nations_at_Swedish_universities) . A universidade é muito antiga tipo do século XVII algo do tipo, e no passado remoto as pessoas moravam nas suas nações e pelo o que entendi essas nações são como grupos estudantis e tão velhos quanto a univerisdade de Lund (cruzes imagina um CABIO 300 anos atrás), mas vou ver se leio mais um pouco sobre isso. Antigamente as pessoas se filizavam a essas nações de acordo com sua procedência. Ou seja uma pessoa de Malmö iria morar com pessoas de Malmö, já que eram culturalmente parecidas e falavam o mesmo dialeto. As nações existem até hoje e eu fui parar em fevereiro na nação Smålands, diga se de passagem de maneira “ilegal”. O que o meu orientador arrumou para mim foi uma sub-locação. Bom o colega que me alugou o quarto me avisou que o “caretaker” dá uma zanzada no prédio então me aconselhou não ficar durante “working hours” no quarto para não dar chabu. A nação é bem divertida e fiquei em um quarto que eles chamam de “corridor room”, me senti dentro de uma caravela já que era exatamente isso um corredor com um monte de quartos e eu dividia o chuveiro e a cozinha com mais 7 pessoas. O banheiro com um Finlandês muito louco que acabou se tornando meu amigo e nosso professor de sueco. Essa nação também é conhecida por ser socialista/anarquista, entretanto descobri mais tarde que o cara que escolhe as pessoas que moram na nação não gosta de estrangeiros (go figure it). Mas um motivo para não dar bobeira, mas com o passar do tempo acabei relaxando e o “caretaker” me descobriu uma dia antes de me mudar para o meu atual apartamento. Inventei uma ladainha que era amigo do cara e tal e que estava no quarto por uma semana. Acho que nem deu problema já que aqui na Suécia é normal ter sub-locação dos locais e tal. Agora para alguns fatos o aluguel do quarto foi de 2242 coras o equivalente a 560 reias, com internet (alias acho que vou deixar a Drica explicar como é difícil conseguir internet). Consegui sobrevier com 5 mil coroas esses mês, aproveitei que estava solo para economizar uma graminha para ajudar a montar o apartamento quando a Drica chega-se. Tudo bem que isso resultou em a Drica descobrir alguns ossos a mais em mim e tomar uma bronca fenomenal por estar magro demais, achei que ela ia gostar do meu corpitchu modelinho Sueco!

UFA que post grande, olha que eu ainda nem falei do pássaro que cagou em mim, da relação de amor e ódio da Drica com o frio, da lojinha do governo que vende álcool, da nossa primeira experiência legitimamente sueca (fomos ao IKEA), das nossas perambuladas em Copenhagen, da briga entre a Drica e a cortina, dos dois capiais tentando entender como lava a roupa no porão comunitário, do novo brinquedinho da Drica que vem com GPS e da vida em geral aqui em Lund. Alias nos estamos nos divertindo muito aqui em Lund e quem quiser aparecer aqui é só avisar, mas como a casa é pequena estamos na política de garantir um chão quentinho para quem se manifestar primeiro.



domingo, 13 de março de 2011

Primeiro post - pode chover, nevar e fazer sol no mesmo dia?

Sim! Eu descobri isso ante ontem. Saí de casa para encontrar o Marcos para almoçarmos juntos e voilá, estava nublado. Antes de sair de casa, fazia sol. Coloquei o casaco mais "fresquinho" que tenho usado (que era o mais quente que tinha no Brasil) e por via das dúvidas, coloquei a capa de chuva na bolsa. Cheguei a igreja em 10 minutos e um chuvisco me pegou, mas como me abriguei rapidamente dentro da igreja não me preocupei muito.

Cheguei um pouco cedo, então sentei e fiquei a esperar. De repente comecei a ouvir uma chuva pesada cair lá fora. Dez minutos mais tarde o Marcos aparece enxarcado com o meu casaco! Sim, porque no dia anterior ele foi "presenteado" com uma carimbada de um pássaro que tem por essas bandas que é uma mistura de pombo com corvo. Todo negro, feio pra caramba e com uma bosta que fede pacas. Por isso ele teve que usar o meu casaco, pois ele só tinha esse e tivemos que deixar em casa pois ele ficou úmido. Voltando ao assunto, a chuva tava feia e não podíamos ficar na igreja o almoço todo. Até porque por aqui, se vc desiste de fazer algo por culpa do tempo, não vai fazer nada. Então saímos procurando um café, bistrô, qq coisa que vendesse comida.

Fomos correndo e rapidamente chegamos a um café italiano. Estava cheio. Todos tiveram a mesma idéia. Entramos na fila para pedir e esperamos. De repente olhei pela janela do café e tinha parado de chover. Chegou a nossa vez e pedimos desculpas por não falarmos sueco. Muito simpático, o atendente, que devia ser italiano, nos disse "Tudo bem, eu também não consigo falar sueco". Eles no entregou um menu em inglês e fomos para o final da fila novamente, pois ainda teríamos que escolher o que comer. Olhei para a janela novamente e percebi que não só chovia como nevava e tudo isso num intervalo de menos de 15 minutos da nossa entrada no café.

Estavamos nos conformando com a idéia de prolongar o almoço até o mau tempo passar quando do nada vem o SOL. Isso mesmo, começou a fazer sol. E ficou assim o resto do dia. Vai entender...

PS: Quando eu digo sol não é aquele de tirar os casacos, apenas aquele de ficar com os pés menos gelados e poder também tirar o gorro da cabeça.