terça-feira, 18 de setembro de 2012

Popstar Academico


Ainda me lembro quando tinhas uns 15 anos e estava tocando violão quando o meu pai bateu na porta do quarto e me perguntou se era apenas diversão ou se eu queria levar a música a sério como profissão. Na hora fiquei pensando como seria legal, quem sabe eu não viraria um popstar. Mas venhamos e convenhamos que se fosse contratado para tocar numa banda de sertenajo (aii) já seria bom demais. Já pensou eu guitarrista de uma banda equivalente a um michel telo da epoca? Com esse pensamento foi obvio que a minha resposta foi não me tornar músico. Com isso resolvi fazer biologia e mais para frente tentar uma carreira acadêmica. Mas sinceramente, acho que deveria ter tentado a música, pois começo a achar que as chances de virar professor universitário ou pesquisador são as mesmas de virar um popstar!

Veja bem, em termos de estudo (levando em consideração que você quer ser um bom músico) é quase a mesma coisa, precisa-se fazer graduação que é de 4 anos (no meu caso 5 anos pois sou meio lerdo), depois 2 anos de mestrado seguido de mais 4 anos de doutorado (no meu caso 6 anos devido a alguns 'setbacks'), ou seja mais ou menos unas 10 anos estudando. Daí já dá para perceber a relação com a música, até porque depois desses 10 anos de estudo o que você tem no final? Uns diplomas e alguns artigos científicos que só são valorizados no meio acadêmico, ou será que uma empresa vai me contratar dizendo “o seu diferencial foi o seu paper na Auk e na Parasitology”?

Agora porque essa relação entre academia e popstar? É que para ambos acho que o fator sorte fazem a diferença, quantos músicos bons não fizeram sucesso e quantos pesquisadores bons não arrumaram empregos. Não por falta de competência, até porque há vários músicos ruins e vários pesquisadores ruins que chegaram no venerado emprego popstar. Portanto, fica a dica para possível pessoas que queiram tentar academia, fica atento para fator sorte relacionado na obtenção de um emprego. O fator sorte vem de várias maneiras, a prova teórica que te ferra na hora do concurso, ou até mesmo como que você complementa ou acrescenta em um departamento de pesquisa. Será que tem uma maneira da gente pensar em um processo seletivo de pesquisadores/professores em que a gente consegue acabar com o fator sorte? Ou será que ao não passar em uma prova teórica eu demonstro uma total falta de preparo?

Acho que vou é me dedicar mais a minha nova banda – Banda do Inspertor Silvestre – pois to começando a achar que a probabilidade dela dar certo é a mesma de conseguir um emprego permanente na academia.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

DutchDoodle

Faz tempo que eu não posto nada no blog mas é porque a vida não anda nada fácil com o fim de doutorado e ainda mais com a nossa volta para o Brasil. Tenho até alguns posts ainda na cabeça sobre a vida na Suécia mas primeiro quero postar sobre as nossas experiências na Holanda. Não precisam se desesperar (nossos poucos seguidores) pois devemos manter o blog ainda ativo por um tempo mesmo depois da volta.

No Natal a gente teve a ilustre presença de um grande amigo nosso e, portanto, “tivemos” que pagar a dívida e retribuir a visita. Sua casa fica em Groningen (ou como dizem os holandeses RRRRRRRRRRRRoningen). Como não há um aeroporto de grande porte fomos “obrigados” a voar para Amsterdam e aproveitamos para perambular e se aventurar em seus canais. Infelizmente (para nós) o inverno na Europa tem sido bem tranquilo e os canais não estavam congelados, o que nos impediria de fazer o passeio de barco, mas teria a enorme vantagem de patinar no gelo e conhecer a cidade sobre patins.

Bom então fomos explorar a cidade da maneira convencional a pé e de tram. Bom já sei que deve estar todo mundo ai pensando que a gente foi nos coffee shops se aventurar nos extensos menus de canabis e seus derivados, mas a gente é careta e toma no máximo uma cervejinha. E mesmo que a gente quisesse os holandeses proibiram a venda de canibis para turista a partir de 2012, agora só pode comprar quem mora em Amsterdam e precisa fazer um cadastro para poder obter o seu fumozinho, sem contar que há várias regras, como não fumar em espaço público e você ter no máximo 5g com você entre outras. Ou seja é legalizado mas não é bagunçado. Sugiro que as pessoas que querem legalizar (que é diferente de descriminalizar) leiam um pouco sobre as experiências da Holanda que são muito boas, mas precisam ter noção que não é bagunçando e há sim fiscalização das regras deles e eles combatem também o tráfico de drogas.

Mas vamos deixar a política de lado. Amsterdam realmente é uma cidade belíssima e com bastante coisa para se fazer e ver. Adoramos o museu do Van Gogh e eu me diverti bastante na casa do Rembrandt. E, é claro, tomando as diferentes cervejas da região. Por favor galera, não percam seu tempo tomando Heineken! Achamos os holandeses também muito simpáticos, mas as holandesas eram bastante bravas e mal humoradas, tirando algumas exceções. Tivemos oportunidade de ver uma jovem holandesa derrubar uma velha holandesa no meio da rua. O motivo da briga era sobre onde a ciclista queria estacionar a sua bicicleta. Alias Amsterdam é igual Copenhague com relação as bicicletas, o que eu acho muito legal, mas vejo que os ciclistas não respeitam ninguém em ambas as cidades e ser atropelados por eles é a coisa mais fácil de acontecer . Acho que as cidades deveriam tomar uma providência para educar os ciclistas que me lembram muito os motoristas no Brasil.

Também passeamos pelo Red light district e tivemos a oportunidade de ver as prostitutas nas janelas. Lá a prostituição é legalizada e as mulheres são consideradas profissionais tendo os mesmo benefícios de qualquer trabalhador holandês, mas não tenho conhecimento dos detalhes e nem de como funciona, mas fiz questão de ir ver e forçar a minha esposa a ir comigo para gente sentir mais ou menos o esquema. Alias há várias questões culturais bem diferentes das nossas como brasileiro, uma é essa da legalização da maconha e da prostituição, mas há outras peculiaridades um tanto engraçadas. Uma delas é a privada (latrina) que é bem diferente. Ela tem uma parte mais elevada onde fazemos as nossas necessidades (quase como um mictório) e quando se dá descarga, teoricamente, a água leva para a parte de baixo que tem água e funciona como uma privada normal. Para mim foi uma experiência divertidíssima, afinal de contas nunca tive a oportunidade de ver como que é a aparência da minha bosta sem estar boiando na água. Mas o que me incomodava é que era impossível a sua bosta não deixar um rastro no caminho para o esgoto e era sempre necessário ter que usar a escovinha. Fiquei tão incomodado que fui pesquisar (na internet, e achei!) uma maneira de não deixar o rastro da bosta para não ter que usar a escovinha, afinal de contas é muita falta de educação ficar deixando rastros nos banheiros sem contar que talvez eu precisava de um “crash course” de como usar a privada na holanda. Deparei como uma técnica que consistia em forrar a parte de cima com papel higiênico e portanto ao dar descarga, o que, teoricamente, não deixaria um rastro. Como muitos de vocês já sabem sou um cara um tanto descoordenado e portanto pedi para Drica testar essa técnica antes de me deparar com a complexidade que ia ser forrar a parte de cima da privada. A Drica conseguiu com muito sucesso, diz ela. Entretanto, eu não consegui executar a técnica, não sei se foi porque resolvi fazer um forro duplo ou uma outra questão mais complexa, mas só sei que na hora de dar descarga a bosta não ia de jeito nenhum para o andar de baixo. O papel fez uma pequena barreira impedindo o caminho da bosta para o esgoto, e olha que tentei 3 vezes! Então tive que usar a escovinha, mas achei meio foda meter a escova na bosta. Pensei comigo “vai ser muita lambança”. Como estava na casa do meu amigo não tinha como eu sair correndo e deixar o pepino para o próximo sem contar que acabou virando um desafio, afinal de contas vou virar doutor (eu espero) em seis meses, com certeza consigo resolver esse problema. O jeito que eu achei foi cobrir a bosta com mais papel para a escovinha ter um lugar seguro para dar aquela “betada” para o buraco debaixo da privada. Juro que eu me senti como se estivesse jogando golfe com minha própria bosta. Depois dessa desisti de tentar descobrir uma maneira melhor de lidar com o inevitável rastro que minhas futuras bostas iriam deixar na latrina e partir para o esquema original que é simplesmente usar a escovinha. Mas espero que algum leitor desse blog saiba como os holandeses lidam com esse dilema do “rastro da bosta”. Ou melhor ainda: porque eles usam uma latrina tão diferente, qual é a lógica de se ter um andar de cima na latrina? Será que eu não to sacando algo relacionado a saúde pública? Será que os holandeses não gostam quando a aguá resvala na bunda? Ou será que é uma questão cultural ver a sua bosta da maneira natural, ter certeza que tudo está funcionado direitinho? Será que eles fazem exames de fezes mensalmente, assim fica fácil de pegar a bosta do andar de cima? Será que faz bem para o meio ambiente, usa menos agua? Mas na Holanda o que mais tem é aguá, os caras tão à 15 metros abaixo do mar! Gostaria muito entender a lógica holandesa da latrina assim de como que o holandês faz para vomitar na latrina sem se sujar com o rebote do vômito. Como já to bem grandinho e sei beber não tive que lidar com essa última experiência.

Para não terminar o post com bosta vale ressaltar que o nosso grande amigo nos levou para assistir a nova sensação da holanda “go back to the zoo” que tocou de graça na praça na versão holandesa do festival Eurosonic que tava rolando. O show foi muito bom e tivemos a oportunidade de participar de outro aspecto cultural, a batatinha frita com maionese! A comida de fim de noite dos holandeses (tipo o nosso dogão de fim de noite). Não recomendo a maionese, ainda mais se você tiver no seu hotel uma latrina holandesa... Groningen é uma cidade bacana, bem antiga e para nós que estamos saindo de Lund tinha um ar de metrópole. Ah como é bom poder pagar dois euros numa cerveja num bar ao invés dos 7 euros que estamos acostumados a pagar na Suécia! Como é bom poder comprar bebida no mercado. Alias, Rená, larga de ser vagabundo e vai visitar o seu amigo!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Segundas impressões

Primeiro gostaria de pedir desculpas ao Marcos pelo bandão no post. Era a vez dele de escrever, mas como ele anda meio ocupado, vou agitar o blog para não perdermos totalmente o ritmo.

Depois de 10 meses vivendo na Escandinávia, algumas imagens começam a se desenhar com mais clareza sobre os hábitos vikings. Primiero descobrimos que apesar da brancura, dinamarqueses, suecos e finlandeses são diferentes entre si. Inclusive naquilo que a gente menos espera, o físico. O que eu posso dizer, os dinamarqueses são mais altos, mas o pessoal do norte da Suécia tbm é bem alto. Aquilo que a gente considera loiro no Brasil, é castanho claro aqui. E etc.

Outra coisa engraçada é lidar com os estereótipos, muita gente aqui gosta de viajar pelo mundo, mas muitos suecos nunca foram à Finlândia, que é ali, do lado. Apesar de ser bastante comum pegarem o barco para lá para comprarem bebida. Sim, em águas internacionais a birita é mais barata. O estranho é que muitos ficam dentro do barco quando chegam em Helsinki. Outra coisa comum é entrar no carro, viajar pelo menos oito horas, cruzar a fronteira entre a Dinamarca e a Alemanha para... De novo, comprar birita. Eu atribuo todo esse esforço ao alto preço do álcool aqui e tbm ao systembolaget, que é a loja do governo, o único lugar onde vc pode comprar álcool.

Mas quando chega o inverno você entende o medo do governo com o alcoolismo. O inverno é deprimente. O dia além de curto não tem luz suficiente. 4 horas da tarde tá escuro como 10 da noite. O seu corpo quer hibernar e abrir o olho antes das 10 da manhã parece anti-natural. O frio é a coisa mais fácil de se lidar, roupa resolve. A falta de luz é deprimente. Temos que tomar vitaminas para compensar a falta de sol. Existem lâmpadas bio-alguma-coisa para enganar o seu corpo.

Se você não bebe e não pode dormir o dia todo, trabalha. Inclusive é muito estranho pois as lojas funcionam até mais tarde no inverno. Talvez já se preparando para a letargia geral. Aí a gente entende o afã com que os suecos vivem a primavera e o verão. No inverno as cores fogem junto com a alegria que eles falavam "hejsam"!

Outra coisa que é interessante é ver como a economia sueca é baseada na pão duragem. Nada aqui é de graça, então, nada se disperdiça. Não se joga nada fora nem se dá, vende-se. Uma bike nova custa em torno de 1000 SEK, uma bike fudida custa 800. É nonsense. Todo mundo guarda latinhas e garrafas para ganhar cerca de 1,00 SEK por cada ao retorná-las. Tem gente que diz que essa "pão duragem" é fruto de uma consciência ambiental. Que seja, mas o IKEA não deixa de ter milhões de frequentadores e as grandes "glasföretagen" misturam os componentes tóxicos para a fabricação dos cristais e vidros em outro lugar.

Mas uma coisa que eu gosto aqui é que o artesanato é valorizado. Você comprar algo numa feirinha significa que vai ser mais caro do que nas lojas, afinal, é único e foi feito à mão. Outra coisa que eu gosto é que nessa pão duragem dos suecos e os estacionamentos sendo quase todos pagos dentro da cidade, vemos uma montanha de bikes. O ar é uma beleza de se respirar. Até cidades grandes como Estocolmo não tem o barulho do trânsito de uma Brasília. E acho que talvez seja essa uma das razões que raramente vemos obesos por aqui.

Algumas coisas entretanto, sempre soam estranhas, mesmo depois de tantos meses aqui. Eu não coloco a salada de repolho em cima da pizza, por mais que os suecos façam cara feia. Preparar o final de semana nos mínimos detalhes com duas semanas de antecedência também me parece limitado e chato. Chamar o quentão de Glögg e tomar junto com biscoito de pimenta é engraçado. Cantar em sueco toda vez antes de tomar um trago é divertido, mas a gente só conhece uma música.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Vem terminando o verão, o calor sai do coração...

É impressionante ver a mudança que ocorre no humor dos suecos com a chegada do verão. Aliás, eu acho que a felicidade começa com a primavera. Para mim que conhecia apenas duas estações, a seca e a chuvosa, foi impressionante ver ao vivo aquilo que os livros de geografia do primeiro grau da minha época (muito ruins, por sinal) tentavam nos ensinar: as características das 4 estações. Na primaveira as tulipas aparecem no começo e as outras flores no final. O verão, são 3 meses de férias. Muitas atividades elaboradas pela prefeitura da cidade para entreter os poucos que ainda se arriscam a ficar pela Escandinávia. Mas antes do povo entrar de férias vc vê a alegria estampada na cara de todo mundo. As pessoas voltam mais cedo para casa, vc vê gente na rua, todo mundo fazendo churrasco, pique-nique, os parques cheios no final de semana. É mesmo uma beleza. Para mim, uma surpresa ver que faz sol aqui e nessa época do ano, ele realmente esquenta.

Só para ilustrar, um dia de sol, fiz um pique-nique com minhas amigas no jardim botânico de Lund, um lugar muito bonito. Eu, como toda boa brasileira, achei que esse sol daqui não era de nada e não passei filtro solar, até porque estava com uma blusa de manga comprida onde só os ombros ficavam de fora. Além da primeira surpresa de realmente sentir calor, imagina a minha cara quando cheguei em casa e percebi que a única parte das minhas costas que ficou exposta estava quase roxa de tão vermelha. É, fiquei vermelha até na Suécia. Mas depois de toda essa alegria, no meio do verão, as pessoas simplesmente somem. Os alunos, a vida da cidade, viajam ou para encontrarem as famílias, ou simplesmente para terem algo divertido para fazer. A maior parte das coisas fecham, mas mesmo assim, tem como se divertir. Por exemplo, a gente comprou um cartão válido para os trens e ônibus da região por 3 meses para um número ilimitado de viagens por apenas 40 euros cada. A gente não conheceu toda a Skåne ainda, mas mesmo assim, valeu a pena.

Bom, oficialmente o verão já acabou, mesmo com alguns dias de sol, como hoje. Mas já é possível sentir frio de vez em quando e a capa de chuva passa a ser um acessório indispensável na vestimenta do dia a dia. Eu sempre dou sorte, quando fico com preguiça de calçar as botas de chuva, chove. Talvez eu mande um par de botas para Brasília e faça um experimento, quem sabe não chove por lá? Bom, voltando ao clima o outono é realmente aquele das ilustrções com as folhas caindo. Não diria apenas caindo, e sim, despencando. Tem pilhas de folhas por todo lado. Acho que os suecos só limpam as ruas onde passam carros pois pelas cilclovias e passagens de pedrestes é comum adarmos enfiando os pés nas folhas e escorregando ao pisar nas sementes caídas (nöter, se me lembro bem o nome em sueco). O sol também vai embora mais cedo, lá pelas 8 horas da noite.

Mas isso não é ruim, ou pelo menos não o tanto que eu esperava, mesmo tendo o aquecimento ainda desligado nessa época. O que eu achei chato mesmo é ver toda aquela alegria e tranquilidade indo embora da face das pessoas. Os alunos voltaram e muitos são bastante diferentes do clima habitual da cidade, calmo e tranquilo. Vejo a toda hora algum maluco super rápido de bicicleta sem usar a buzina para avisar que está passando. Eles tiram cada fino que vc tem vontade de jogar uma pedra só para ver se assusta o cara do mesmo jeito que ele te assustou. Os carros também voltam às ruas e o trânsito fica louco. Sim, porque Lund não tem ruas largas mesmo tendo ônibus enormes. E eu ouvi outro dia algo que até me fez lembrar o Brasil: buzinas impacientes para um cara sair mais rápido do sinal verde para ficar parado 5m adiante. Até a biblioteca está cheia e estressante. Acho que por isso fiquei mais chocada ao ver um doidinho surtando lá dentro. Será que o outono é a estação do stress? Todo mundo triste porque não tem mais férias e tem que voltar ao trabalho? Ou será que é a volta do frio e da chuva? E se o outono for assim o que me dira do mal falado "vinter".

sábado, 27 de agosto de 2011

Doutorado de Tolo

Eu sei que o blog foi criado para falar sobre a vida aqui na Suécia, mas vou aproveitar para falar sobre o famoso doutorado. Alias, as vezes eu fico me perguntando, por que cargas d'água eu resolvi fazer um doutorado. Eu até tento encarar esse troço como um emprego, mas não sei se é uma boa idéia porque eu me sinto muito mal pago, mas ao mesmo tempo não tenho mais aquela visão sonhadora sobre doutorado, academia e etc. Até tem seus pontos altos, mas no caso do meu toda vez que tenho uma notícia boa vem logo uma ruim para te botar para baixo. No meu caso depois de finalmente conseguir uma semana de bons resultados no laboratório e alguns “breakthough” no R (vai fazer análise de GIS em R, ninguém merece, mas agora consigo até plotar o mapa do brasil entre outras coisas). Ai recebo um e-mail sobre um artigo que publiquei (eba!) cobrando 1200 doláres :(. Isso me irritou profundamente, além de trabalhar que nem um doido para ter que publicar um artigo eu ainda tenho que pagar vai t#$% no c$. Ah Debinha a revista é Americana talvez você se divirta com esse fato. Para melhorar a situação eu fico sabendo sobre a cobrança depois que o artigo foi publicado e impresso na revista, e agora José? Tipo os caras nem para mandar a conta no hora de assinar o copyright, gente boa demais eles? Eu mandei dizer que não tenho essa grana, será que meu nome vai para o SERASA acadêmico? Será que agora com nome sujo na praça não vou mais conseguir publicar nem nas revistas que não cobram?

Será que é por isso que os brasileiros não conseguem publicar tanto, essa revista é qualis A e ai CAPES fiz minha parte vocês vão pagar a conta.

“Good Lord Doctorate thesis how you frustate me”


segue uma letra do Raul modificada por mim para ficar mais pessoal. A música é ouro de Tolo.



Eu devia estar contente

Porque eu tento ser doutor

Sou dito estudante respeitável

E ganho 11 mil coroas

Por mês...


Eu devia agradecer ao Senhor

Por ter tido sucesso

Na vida como estudante

Eu devia estar feliz

Porque consegui comprar

Um MacBook 2006...


Eu devia estar alegre

E satisfeito

Por morar em Lund

Depois de ter passado

Estresse por dois anos

Na Inglaterra....


Ah!

Eu devia estar sorrindo

E orgulhoso

Por ter finalmente publicado na vida

Mas eu acho isso uma grande piada

E uma tanto quanto ilusória...


Eu devia estar contente

Por ter conseguido

Publicar o meu mestrado

Mas confesso abestalhado

Que não sabia que ia custar tão caro...


Porque não foi fácil conseguir

E agora eu me pergunto “Pra que”

Eu tenho uma porção

De coisas bem melhores para conquistar

Do que um nome num pedaço de papel....


Eu devia estar feliz pelo Senhor

Ter me concedido o R

Pra fazer minhas análises

Sem ter que pagar ninguém

Ou fazer pirataria...


Ah!

Mas que sujeito chato sou eu

Que não acha nada engraçado

R, artigo, doutorado,

bolsa, laboratório

Eu acho tudo isso um saco...


É você olhar no espelho

Se sentir

Um grandessíssimo idiota

Saber que é um acadêmico ridículo,

Pobre, futuro desempregado

Que não sabe de onde vai

Vim a próxima bolsa...


E por ai vou para por aqui pois tenho uma festinha de despedidas das amigas da Drica para ir e preciso melhorar o meu humor.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Mãos ao alto, vc está na Dinamarca!

Nós estamos morando na Suécia, mas a 40min de trem de Copenhague, na Dinamarca. A proximidade foi uma desculpa para as mais de 5 visitas que já fizemos a cidade. A mais bonita (até então) da Europa, segundo o Marcos. Muitas das vezes que vamos a Copenhague é para pegar alguém no aeroporto, ou visitar brasileiros que menosprezam Lund. :P Para eles! Lund é massa!

A questão é que sempre que voltamos de Copenhague, nossa conta bancária leva um susto. Sabe como é, duas pessoas vivendo com apenas uma bolsa de dourado, tem que levar as despesas na rédea curta. Anotamos TODOS os gastos numa planílha. Guardamos todos os comprovantes de gastos para não perdermos nada de vista. Mas mesmo assim, Copenhague sempre quebra as nossas pernas.

Durante muito tempo pensamos que isso acontecia porque a coroa dinamarquesa valia mais do que a sueca, só que mesmo tentando nos prevenir e dividindo os preços por três em vez de quatro, como fazemos aqui na Suécia, ainda ficávamos sem grana. Eu comecei a atribuir isso ao fato de Copenhague ser uma cidade cara, o que é praticamente um concenso. E desde então, fazemos o máximo para evitar passar por lá. No máximo, uma volta rápida, dentro do trem, em direção ao aeroporto.

Mas recentemente, quando levávamos mais uma trupe de brasileiros/ingleses para conhecer a capital dinamarquesa, com medo de ficar no vermelho, descobrimos o motivo do rombo. A Dinamarca cobra 3% de imposto no valor de cada compra feita com um cartão de crédito ou débito não dinamarquês. Pode? Mesmo com todas as parceirias entre a Skane e Copenhague, não tem como nosso cartão do banco ser considerado dinamarquês. Voilà, descobrimos o furo. Além de pagarmos 1/3 a mais por causa da diferença entre a coroa sueca e dinamarquesa, pagamos 3% a mais em cada compra.

Depois dessa desagradável surpresa, ainda notei que as mesmas lojas que tem em Lund e em Copenhague, lá na Dinamarca, cobram descaradamente mais caro pela mesma roupa. E nem tem a preocupação de mudar ou apagar o preço sueco da etiqueta. É, parece que Copenhague de novo, só se for para o Kastrup, o aeroporto.

Uma dica para quem está pensando em conhcer Copenhague: leve dinheiro em espécie e evite ao máximo usar seu cartão de crédito ou débito.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Doutorado Tri-Possante

O Dudu pediu para eu postar um post sobre como é o doc aqui na Suécia e como ando sem ideias (inclusive de como abordar a minha tese grgrgrgrgrgrgrgr) resolvi então falar de um tema mega divertido, doutorado em vários lugares do mundo. Bom no meu caso eu posso falar da minha experiência no Reino Unido (onde iniciei o meu doc), Brasil e Suécia (tudo bem que aqui é sanduíche), alias talvez podemos ver o meu doutorado como um Tri-Possante Brutus!


Vou então falar sobre o doc em ordem cronológica e vou tentar não detonar o sistema de nenhum dos países assim como não vangloriar nenhum deles, até porque eu acho que qual sistema é melhor depende do perfil do aluno. A minha experiência no Reino Unido não foi das melhores, primeiro que tive uns problemas pessoais e depois porque sou uma pessoa meio orgulhosa e teimosa (algo que eu melhorei bastante nos últimos anos). O problema que eu vi no sistema inglês é que se você for bolar um projeto do zero, mesmo em conjunto com seus orientadores (como foi o meu caso), é muito difícil de você conseguir terminar à tempo, que no caso deles é 3 anos. Você pode até pedir mais tempo mas você não terá bolsa nos meses excedentes .Tanto é que a maioria dos alunos no Reino Unido entram para o doutorado com um projeto previamente pensado pelo orientador, não só isso, mas também com dinheiro para execução do projeto (ou seja já foi previamente avaliado por outras pessoas). Isso significa que no geral o doc para eles é como se fosse um treinamento em pesquisa, um sistema que particularmente não tem o meu perfil. Mas se você só tem 3 anos, isso significa que você não tem o luxo de perder o 1 ano pensando em um projeto e executando um piloto, e portanto a melhor saída talvez seja entrar em um projeto já "thought out" pelo seu orientador. Outra saída é trabalhar que nem um maluco, entre 60-80 horas por semana, que era o que rolava quando tava lá para tentar compensar esse um ano a menos (era surpreendente o número de alunos no trabalho depois das 22:00). Claro que tem maluco que consegue bolar o seu projeto, consegue dinheiro e o executa em 3 anos sem ter que trabalhar entre 60-80 horas por semana, mas como disse depende do seu perfil, eu sou meio devagar e portanto não consegui me enquadrar no sistema inglês, até porque 1000 libras para trabalhar no mínimo 60 horas por semana ninguém merece.


No Brasil a gente tem 4 anos, tudo bem que tem as disciplinas, mas uma ou outra realmente tem uma carga horária bem pesada e na minha opinião no Brasil a gente tem mais tempo para pensar o projeto antes de executa-lo. Eu acho que tenho um perfil mais parecido com o Brasil, mas sei que agora que estou chegando ao fim estou um tanto quanto irritado de ter que escrever a minha tese em português, ou seja vou ter que traduzir os artigos o que querendo ou não dá um puta trabalho e perde o meu tempo e o da minha orientadora que também vai ter que ler a tradução.
O doc na Suécia tem um perfil parecido com o Brasil, são 4 anos de doc com disciplinas, mas se você apresenta trabalho em congresso você recebe créditos e as disciplinas aqui são todas condensadas o que também ajuda. Aqui é que nem na Inglaterra o orientador tem que conseguir pagar o salário e projeto do aluno e acho que a maioria dos meus colegas aqui são alunos de doc de um projeto previamente pensado já, mas vou averiguar isso. Mas o que eu gostei daqui é que os alunos são contratados pela universidade então o tempo de doc já conta para aposentadoria deles e se eles não arrumarem emprego, tem seguro de desemprego, já que eles tem o equivalente a carteira assinada aqui, podem até tirar férias. Outra coisa que eu gostei muito é que aqui a maioria dos alunos não trabalham 60-80 horas por dia, ou pelo menos se trabalham tudo isso trabalham uma boa parte em casa. Outra coisa são raras as teses em sueco, todas são inglês, na verdade a tese deles aqui é uma compilação dos artigos que foram publicados ou estão prontos para ser submetidos, inclusive o aluno não precisa ser necessariamente primeiro autor dos artigos. Pelas teses que eu olhei eles são primeiro autores em 2-3 dos 4-5 manuscritos presentes na tese. Na verdade o que eu gosto daqui é que o grupo de pesquisa tem uma coletividade muito grande, o que eu não experienciei no Reino Unido, onde os alunos eram muito individualistas e competitivos (eles queriam mais era que você se ferrasse para ter menos um na hora das bolsas de pos-doc). Os alunos aqui não ficam competindo entre si e todos tentam ajudar um ao outro, muito parecido com o que rola no laboratório da minha orientadora no Brasil. Isso eu acho muito legal daqui, mas o mais legal é que aqui você é visto como um colaborador e não como um aluno, portanto eu aconselho qualquer um a vim fazer doc aqui na Suécia.
Dudu fique a vontade para perguntar o que quiser, não sei se era bem isso que você queria saber sobre a minha experiência por aqui.