sábado, 27 de agosto de 2011

Doutorado de Tolo

Eu sei que o blog foi criado para falar sobre a vida aqui na Suécia, mas vou aproveitar para falar sobre o famoso doutorado. Alias, as vezes eu fico me perguntando, por que cargas d'água eu resolvi fazer um doutorado. Eu até tento encarar esse troço como um emprego, mas não sei se é uma boa idéia porque eu me sinto muito mal pago, mas ao mesmo tempo não tenho mais aquela visão sonhadora sobre doutorado, academia e etc. Até tem seus pontos altos, mas no caso do meu toda vez que tenho uma notícia boa vem logo uma ruim para te botar para baixo. No meu caso depois de finalmente conseguir uma semana de bons resultados no laboratório e alguns “breakthough” no R (vai fazer análise de GIS em R, ninguém merece, mas agora consigo até plotar o mapa do brasil entre outras coisas). Ai recebo um e-mail sobre um artigo que publiquei (eba!) cobrando 1200 doláres :(. Isso me irritou profundamente, além de trabalhar que nem um doido para ter que publicar um artigo eu ainda tenho que pagar vai t#$% no c$. Ah Debinha a revista é Americana talvez você se divirta com esse fato. Para melhorar a situação eu fico sabendo sobre a cobrança depois que o artigo foi publicado e impresso na revista, e agora José? Tipo os caras nem para mandar a conta no hora de assinar o copyright, gente boa demais eles? Eu mandei dizer que não tenho essa grana, será que meu nome vai para o SERASA acadêmico? Será que agora com nome sujo na praça não vou mais conseguir publicar nem nas revistas que não cobram?

Será que é por isso que os brasileiros não conseguem publicar tanto, essa revista é qualis A e ai CAPES fiz minha parte vocês vão pagar a conta.

“Good Lord Doctorate thesis how you frustate me”


segue uma letra do Raul modificada por mim para ficar mais pessoal. A música é ouro de Tolo.



Eu devia estar contente

Porque eu tento ser doutor

Sou dito estudante respeitável

E ganho 11 mil coroas

Por mês...


Eu devia agradecer ao Senhor

Por ter tido sucesso

Na vida como estudante

Eu devia estar feliz

Porque consegui comprar

Um MacBook 2006...


Eu devia estar alegre

E satisfeito

Por morar em Lund

Depois de ter passado

Estresse por dois anos

Na Inglaterra....


Ah!

Eu devia estar sorrindo

E orgulhoso

Por ter finalmente publicado na vida

Mas eu acho isso uma grande piada

E uma tanto quanto ilusória...


Eu devia estar contente

Por ter conseguido

Publicar o meu mestrado

Mas confesso abestalhado

Que não sabia que ia custar tão caro...


Porque não foi fácil conseguir

E agora eu me pergunto “Pra que”

Eu tenho uma porção

De coisas bem melhores para conquistar

Do que um nome num pedaço de papel....


Eu devia estar feliz pelo Senhor

Ter me concedido o R

Pra fazer minhas análises

Sem ter que pagar ninguém

Ou fazer pirataria...


Ah!

Mas que sujeito chato sou eu

Que não acha nada engraçado

R, artigo, doutorado,

bolsa, laboratório

Eu acho tudo isso um saco...


É você olhar no espelho

Se sentir

Um grandessíssimo idiota

Saber que é um acadêmico ridículo,

Pobre, futuro desempregado

Que não sabe de onde vai

Vim a próxima bolsa...


E por ai vou para por aqui pois tenho uma festinha de despedidas das amigas da Drica para ir e preciso melhorar o meu humor.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Mãos ao alto, vc está na Dinamarca!

Nós estamos morando na Suécia, mas a 40min de trem de Copenhague, na Dinamarca. A proximidade foi uma desculpa para as mais de 5 visitas que já fizemos a cidade. A mais bonita (até então) da Europa, segundo o Marcos. Muitas das vezes que vamos a Copenhague é para pegar alguém no aeroporto, ou visitar brasileiros que menosprezam Lund. :P Para eles! Lund é massa!

A questão é que sempre que voltamos de Copenhague, nossa conta bancária leva um susto. Sabe como é, duas pessoas vivendo com apenas uma bolsa de dourado, tem que levar as despesas na rédea curta. Anotamos TODOS os gastos numa planílha. Guardamos todos os comprovantes de gastos para não perdermos nada de vista. Mas mesmo assim, Copenhague sempre quebra as nossas pernas.

Durante muito tempo pensamos que isso acontecia porque a coroa dinamarquesa valia mais do que a sueca, só que mesmo tentando nos prevenir e dividindo os preços por três em vez de quatro, como fazemos aqui na Suécia, ainda ficávamos sem grana. Eu comecei a atribuir isso ao fato de Copenhague ser uma cidade cara, o que é praticamente um concenso. E desde então, fazemos o máximo para evitar passar por lá. No máximo, uma volta rápida, dentro do trem, em direção ao aeroporto.

Mas recentemente, quando levávamos mais uma trupe de brasileiros/ingleses para conhecer a capital dinamarquesa, com medo de ficar no vermelho, descobrimos o motivo do rombo. A Dinamarca cobra 3% de imposto no valor de cada compra feita com um cartão de crédito ou débito não dinamarquês. Pode? Mesmo com todas as parceirias entre a Skane e Copenhague, não tem como nosso cartão do banco ser considerado dinamarquês. Voilà, descobrimos o furo. Além de pagarmos 1/3 a mais por causa da diferença entre a coroa sueca e dinamarquesa, pagamos 3% a mais em cada compra.

Depois dessa desagradável surpresa, ainda notei que as mesmas lojas que tem em Lund e em Copenhague, lá na Dinamarca, cobram descaradamente mais caro pela mesma roupa. E nem tem a preocupação de mudar ou apagar o preço sueco da etiqueta. É, parece que Copenhague de novo, só se for para o Kastrup, o aeroporto.

Uma dica para quem está pensando em conhcer Copenhague: leve dinheiro em espécie e evite ao máximo usar seu cartão de crédito ou débito.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Doutorado Tri-Possante

O Dudu pediu para eu postar um post sobre como é o doc aqui na Suécia e como ando sem ideias (inclusive de como abordar a minha tese grgrgrgrgrgrgrgr) resolvi então falar de um tema mega divertido, doutorado em vários lugares do mundo. Bom no meu caso eu posso falar da minha experiência no Reino Unido (onde iniciei o meu doc), Brasil e Suécia (tudo bem que aqui é sanduíche), alias talvez podemos ver o meu doutorado como um Tri-Possante Brutus!


Vou então falar sobre o doc em ordem cronológica e vou tentar não detonar o sistema de nenhum dos países assim como não vangloriar nenhum deles, até porque eu acho que qual sistema é melhor depende do perfil do aluno. A minha experiência no Reino Unido não foi das melhores, primeiro que tive uns problemas pessoais e depois porque sou uma pessoa meio orgulhosa e teimosa (algo que eu melhorei bastante nos últimos anos). O problema que eu vi no sistema inglês é que se você for bolar um projeto do zero, mesmo em conjunto com seus orientadores (como foi o meu caso), é muito difícil de você conseguir terminar à tempo, que no caso deles é 3 anos. Você pode até pedir mais tempo mas você não terá bolsa nos meses excedentes .Tanto é que a maioria dos alunos no Reino Unido entram para o doutorado com um projeto previamente pensado pelo orientador, não só isso, mas também com dinheiro para execução do projeto (ou seja já foi previamente avaliado por outras pessoas). Isso significa que no geral o doc para eles é como se fosse um treinamento em pesquisa, um sistema que particularmente não tem o meu perfil. Mas se você só tem 3 anos, isso significa que você não tem o luxo de perder o 1 ano pensando em um projeto e executando um piloto, e portanto a melhor saída talvez seja entrar em um projeto já "thought out" pelo seu orientador. Outra saída é trabalhar que nem um maluco, entre 60-80 horas por semana, que era o que rolava quando tava lá para tentar compensar esse um ano a menos (era surpreendente o número de alunos no trabalho depois das 22:00). Claro que tem maluco que consegue bolar o seu projeto, consegue dinheiro e o executa em 3 anos sem ter que trabalhar entre 60-80 horas por semana, mas como disse depende do seu perfil, eu sou meio devagar e portanto não consegui me enquadrar no sistema inglês, até porque 1000 libras para trabalhar no mínimo 60 horas por semana ninguém merece.


No Brasil a gente tem 4 anos, tudo bem que tem as disciplinas, mas uma ou outra realmente tem uma carga horária bem pesada e na minha opinião no Brasil a gente tem mais tempo para pensar o projeto antes de executa-lo. Eu acho que tenho um perfil mais parecido com o Brasil, mas sei que agora que estou chegando ao fim estou um tanto quanto irritado de ter que escrever a minha tese em português, ou seja vou ter que traduzir os artigos o que querendo ou não dá um puta trabalho e perde o meu tempo e o da minha orientadora que também vai ter que ler a tradução.
O doc na Suécia tem um perfil parecido com o Brasil, são 4 anos de doc com disciplinas, mas se você apresenta trabalho em congresso você recebe créditos e as disciplinas aqui são todas condensadas o que também ajuda. Aqui é que nem na Inglaterra o orientador tem que conseguir pagar o salário e projeto do aluno e acho que a maioria dos meus colegas aqui são alunos de doc de um projeto previamente pensado já, mas vou averiguar isso. Mas o que eu gostei daqui é que os alunos são contratados pela universidade então o tempo de doc já conta para aposentadoria deles e se eles não arrumarem emprego, tem seguro de desemprego, já que eles tem o equivalente a carteira assinada aqui, podem até tirar férias. Outra coisa que eu gostei muito é que aqui a maioria dos alunos não trabalham 60-80 horas por dia, ou pelo menos se trabalham tudo isso trabalham uma boa parte em casa. Outra coisa são raras as teses em sueco, todas são inglês, na verdade a tese deles aqui é uma compilação dos artigos que foram publicados ou estão prontos para ser submetidos, inclusive o aluno não precisa ser necessariamente primeiro autor dos artigos. Pelas teses que eu olhei eles são primeiro autores em 2-3 dos 4-5 manuscritos presentes na tese. Na verdade o que eu gosto daqui é que o grupo de pesquisa tem uma coletividade muito grande, o que eu não experienciei no Reino Unido, onde os alunos eram muito individualistas e competitivos (eles queriam mais era que você se ferrasse para ter menos um na hora das bolsas de pos-doc). Os alunos aqui não ficam competindo entre si e todos tentam ajudar um ao outro, muito parecido com o que rola no laboratório da minha orientadora no Brasil. Isso eu acho muito legal daqui, mas o mais legal é que aqui você é visto como um colaborador e não como um aluno, portanto eu aconselho qualquer um a vim fazer doc aqui na Suécia.
Dudu fique a vontade para perguntar o que quiser, não sei se era bem isso que você queria saber sobre a minha experiência por aqui.