sexta-feira, 15 de abril de 2011

A burocracia sueca é lenta, mas a vida, nem tanto

Bom, quando criei o título do blog estava pensando num movimento que uma vez um aluno (agora amigo) me apresentou, o slow life. É um estilo de vida que busca aproveitar ao máximo os prazeres da vida. Não é algo epicurista, pelo contrário, na minha opinião é mais um movimento por uma vida moderada - desacelerar um pouco. Slow food, usar a tecnologia somente quando necessário. Existem coisas no movimento que eu acho exageradas, mas a parte de desacelerar a rotina me agrada bastante. Até porque eu não gosto de ter um prazo curto.

Entretanto aqui na Suécia, por mais que a burocracia seja slow existem coisas que são muito fastes. Por exemplo, ir ao mercado. A primeira vez que eu fui, me senti um pouco acuada, como se estivesse perdida. Primeiro porque todos entravam apressados, depois fui pega de surpresa pelo mecanismo da cestinha. Fiquei olhando pra cestinha até que o Marcos retirou-a da pilha, puxou a alça certa e começou a empurrá-la, sim, ela era funda daquele jeito porque tinha rodinhas. Outra coisa difícil foi identificar o que queríamos, pois a toda hora tinha alguém apressado e totalmente decidido querendo passar e nós estavamos literalmente no meio do caminho porque o mercado é pequeno e os corredores são apertados, afinal, ninguém usa carrinho.

Talvez as pessoas estejam apressadas porque ir ao mercado é um saco. Outra opção, pode ser que por que o mercado fica em frente a estação de trem, sempre tem alguém com o tempo contado para pegar o próximo trem, afinal, aqui as coisas tem horário. Ou talvez as pessoas tenham que correr pois encontrar um lugar pra morar, se organizar com a burocracia sueca e chegar ao tempo onde se tem que ir vestindo todas as camadas de roupa necessárias leva tempo. Pra quê perdê-lo no mercado?

Sabe outra coisa que me deixou p***? Aquele esquema de não colocar o preço nas coisas pois tem aquela etiqueta na prateleira. Bom, se alguém muda de lugar a etiqueta, como vc vai saber de qual produto é cada preço que está fora de lugar? Tem o nome, mas eles tem tantas variações q muitas vezes vc simplesmente se perde. Por exemplo, maionese, pode ser light, extra, ovo, com toque de limão... fora as inúmeras marcas. Depois de um certo tempo, vc simplesmente se emputece. Com os produtos industrializados a gente até se entende. Muitas marcas são internacionais. Mas e os legumes e verduras? Eles só colocam alguns preços na prateleira. De resto vc tem que advinhar. Bom, eu só compro quando o preço e a foto que eles colocam na etiqueta correspondem àquilo que eu quero levar.

Tem ainda o esquema do próprio leitor de código de barras. Vc pega na entrada e vai passando nas coisas que quer comprar, como se vc mesmo fosse o caixa. No final, é só colocar numa maquininha, passar o cartão e pagar. Quer dizer, parece simples, auto serviço e talz. Mas quando a gente nunca usou o negócio e tá tudo escrito em sueco sem ninguém para explicar como funciona, fica complicado. E realmente nunca tem ninguém para explicar como funciona pq é pra funcionar sozinho...

Os suecos provavelmente nascem sabendo, mas a gente... Enfim, agora que já sei umas palavrinhas em sueco eu vou tentar usar esse trem. Difícil ainda é escolher as coisas e descobrir o que tem com um sueco falando "Ursäkta" querendo que vc dê licença a cada minuto.

sábado, 9 de abril de 2011

Licença para pedalar

Bom estou aqui tomando uma guiness de baixo teor álcoolico (3.5%) porque eu e a Drica não conseguimos nos organizar para comprar bebida no "System Bolaget" e como o nosso sábado está sem nenhuma noitada planejada, resolvi blogar enquanto a Drica tenta enteder o Francês da pantera cor de rosa, vulgo Steve Martin (me lembra a história do Akira, mas deixa para lá).

Bom resolvi contar algo muito peculiar que me aconteceu essa semana. Estava eu voltando do trabalho umas 18:00 horas escutando "I'm from Barcelona" tentando enteder o porque do nome dessa banda, quando de repente do nada sai um maluco do mato "Sluta, Sluta". Para minha surpresa na verdade o maluco era um policial, pensei comigo mesmo na hora, "putz a minha teoria de que pareço com um terrosita famoso deve ser verdade, lascou". Mas para minha sorte não era comigo ele parou uma menina tipicamente sueca que vinha de bicicleta. Bom fiquei curioso de saber o que havia acontecido e então fiquei observando o policial em ação. Ao olhar com mais calma reparei que no mato haviam mais três policiais e uma viatura e mais uma civil parado com sua bicicleta enquanto o policial conversava com ela.

Passou mais um ciclista e o policial parou ele também e percebi que o policial o levava para viatura, bom pensei que era uma gangue de "metralhas" em bicicletas, ou possivelmente ladrões de bicicletas. Como esse último ciclista era estrangeiro o polical estava falando em inglês com ele, e sem sacanagem ele disse o seguinte...
"your tail light is not working"
"you know that this is a problem right" e por ai vai.

ACREDITE SE PUDER, e olha que não estou na Nova Zelândia e não sou o Jaca Paladium, mas era uma BLITZ DE BICICLETA!!!!! Aqui todo mundo anda de bicicleta e tem regras para você poder andar de bike aqui. Bom vc precisa ter um farol vermelho na traseira da bike ou nas suas costas e na frente uma luz branca. Além das luzes cada roda da sua bike tem que ter dois refletores. A falta ou a não funcionalidade desses equipamentos na sua bike enquanto vc estiver pedalando (agora entendo porque aqui a galera leva a bike para passear) te dar uma multa. Cada luz não funcional acareta em uma multa de 500 kr. Alias aqui vc precisa também avisar se vai virar quando está na bike, mas me disseram que estudantes tem direito a descontos nas multas (tudo bem que a informação venho de um site wiki).

Deixando a blitz de lado, os suecos levam transporte público muito a sério e tentam te dar o máximo de opções possíveis para vc não ter que usar carro, alias o preço de carro aqui é bem parecido com o Brasil. Uma das opções é a bike e portanto eles dão um jeito do trânsito ser seguro para os ciclistas, sendo assim aqui tem ciclovias para todo o lado (inclusive entre as cidades, para não ter que pedalar no meio da rodovia) e a bike funciona como se fosse uma moto. Você tem que andar de acordo com as leis de trânsito, tipo parar no sinal vermelho, dar seta com a mão e tal. O mais legal são os diferentes acessórios de bike que rolam, além da clássica cestinha, rola a bike com caderinha para levar criança, a bike com carrinho acoplado, inclusive o carrinho é fechado para proteger seu bacurizinho da chuva e do frio, canos que acoplam mini bikes na sua para sue bacurizinho e pedalando junto contigo e por ai vai, aliás eles colocam um protetor de banco para vc não molhar o bubum. Esse negócio de bike é tão sério que 30% das pessoas vão para o trabalho em Copenhagen de bike, eu não sei os números daqui da Suécia mas creio que deve ser parecido. Alias lá não existe trânsito na hora do rush (tudo bem que a cidade tem apenas 1.5 milhões de habitantes), pois 50-60% das pessoas vão para o trabalho de ônibus e mêtro.

Não vou mentir para vocês o transporte aqui é caro, até os suecos reclamam do preço, para se ter uma ideia para ir para Malmö, que é 10 minutinho no trem, eu e a drica com desconto de casal e do cartãozinho pré-pago que também dá 20% de desconto pagamos 60 kr, ida e volta 120 kr (mais ou menos 25 pila). Se fossemos sozinho 42 kr para ir e 84 ida e volta. Mas o lado bom é que o trem e o baú está sempre na hora é quentinho, perfumado e confortável. Inclusive o esquema é tão organizado que até as paradas de ônibus aqui tem nome, portanto é muito fácil de se locomover, pegar ônibus é igual a um mêtro, porque eles falam "Nästa Station Prästbergavägen". Vc entra no site skånetrafiken pede para ir de x a y eles te dão o número do ônibus a hora e se o ônibus esta atrasado ou não, alias se o baú chegar antes da hora prevista ele fica lá esperando. Outra coisa a gente tá no interior mas tem ônibus e trem para tudo quanto é canto e durante a semana tem a cada 5/10 minutos, com o último ônibus saindo umas 2 da manhã, ou seja não precisamos de carro e o melhor posso beber a vontade que vai ter como eu chegar em casa de maneira quentinha, até porque a minha "metade melhor" por mais pequeninha que seja me consegue levar para casa.

Hey då!


quinta-feira, 7 de abril de 2011

Programa de sueco - parte 2

Depois de comermos no bandeijão do Ikea sem entender ao certo porque os suecos não desistiam daquele lugar e daquela fila enorme, fomos a parte que interessava: as compras.

Conseguimos tudo o que precisávamos: pratos, copos, facas, panelas, o meu carrinho de feira (mas esse a gente tomou choque pra pegar), um cobertor maravilhoso pra ficar vendo TV no sofá e... 100 velas e 100 guardanapos. Eu nem tinha me tocado disso quando o Marcos me zoou ao chegarmos em casa. "Linda, vc sabia que comprou 100 guardanapos e 100 velas?". Os guardanapos eu nem liguei, mas na hora que ouvi o segundo objeto da frase pensei "Quem precisa de 100 velas? - Putz, que me***, comprei 100 velas!".

Quem precisa de 100 velas? Aqui na Suécia, por todo lugar que vc vai, tem velas, velinhas e velões. Eles gostam de criar um clima. E como as velas são uma mania nacional, os candelabros são coisas relativamente baratas. Custam em média 15kr. Como no nosso apê tem candelabros espalhados por todo lugar e eu tbm gosto de velas, pensei "vou comprar um pouco a mais para não me preocupar com isso, afinal, eu não sei quando volto ao Ikea". Enfim, a questão é se realmente vamos usar as 100 velas, mas de fato, tenho por mim, que não volto mais aquele lugar.

Fizemos boas comprar sim, mas se contabilizarmos o trem, o baú, o frio nabarriga na hora de voltar pq descemos no centro de Malmö e não achávamos a droga da estação de trem, o peso que o Marcos carregou pq as panelas não cabiam no carrinho, a canseira na hora que chegamos em casa e a constatação que absolutamente NADA daquilo tinha sido fabricado na Suécia, era tudo da China, chegamos a conclusão de que o gasto que tivemos para chegar não valeu o esforço. Tudo bem que compramos muitas coisas novas pelo preço das da loja de segunda mão, mas no final, o que valeu a pena mesmo, foram os guardanapos e as velas, que vou dar de presente para todos que vierem aqui. 10 velas pra cada um. ;)

PS: Tudo bem que o Marcos vai dizer que a melhor compra do Ikea foram as panelas, mas eu quero ver na mala de quem elas vão voltar pro Brasil.

PS2: Depois que descobrimos a mágica das promoções, a Tiger e a Årléns o Ikea parece agora algo ainda mais sem sentido.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Programa de sueco

No Brasil existe uma expressão que diz que o "programa de índio" é algo extremamente trabalhoso é que não serve pra nada. Uma roubada, se me permitem complementar. Pois bem, eu descobri a versão sueca do programa de índio: ir no Ikea.

Não sei se cheguei a comentar com vcs, mas o apê que alugamos veio totalmente mobilhado. Até aspirador de pó nós temos. Mas, em compensação, nada de utensílhos domésticos. Tínhamos apenas uma frigideira de dar pena, 3 copos e 2 pares de talheres. O Marcos pensou em comprar, mas como tinha muita coisa para resolver antes da minha chegada, deixou para fazermos juntos. Até porque não fazia muito sentido comprar um monte de coisas para carregar sozinho do quarto em que estava para o novo apartamento.

Enfim, eu cheguei e ele me falou que teríamos de comprar essas coisas, e logo em seguida falou da loja de segunda mão. Eu estranhei bastante, pq não precisávamos comprar móveis nem nada do gênero. E bom, não sei se é nóia herdada de mamis ou coisa de brasileiro, mas achei meio nojento comprar panelas e talheres usados. Só que tanta gente recomendou que fóssemos na loja de segunda mão que pensei, "em Roma, faça como os romanos". Fomos à loja. Era uma coisa de louco. Tinha de tudo, de roupas a tapetes, copos a sofás, além de uma porção de suecos apressados. Concluí então que era assim que se faziam as coisas por aqui, afinal, uma panela de macarrão que custava 399kr nova na loja, saia na loja de segunda mão por 25kr. Claro que não era "A" panela, mas como não tem nenhum chefe em casa, a panela era mais do que suficiente. Conseguimos também algumas facas pra cortar carne e queijo além de pratos e taças de vinho.

Porém, a loja de segunda mão está sujeita ao acaso. Você pode estar precisando de um cortador de queijo e naquela semana não aparecer nenhum na loja. Então, se vc está realmente necessitado, pode ir à loja chique e pagar umas 80kr num cortador que tem um design super arrojado sueco. Mas pra mim continua sendo 20 conto num cortador de queijo com o cabo de plástico. Para fujir desse problema, você pode ir ao Ikea, a Tok Stok sueca. O Paes disse que na Austrália ele montou a casa toda com móveis do Ikea e que foi super barato. Como a loja é sueca, parecia lógico que iria ser um negócio melhor ainda pra gente, afinal, só precisávamos de utensílhos.

Lá em Brasília, para ir à Tok Stok ou qq outra loja dessas de decoração, vc precisa de carro. Aqui na Suécia, em geral, vc não precisa de carro para nada, a não ser, ir ao Ikea. Sim, pq ele fica em outra cidade e fora do centro. Desanimamos totalmente, afinal, não ia ser nada fácil carregar as coisas até um lugar habitado para pegar um ônibus, depois um trem, sair do trem e andar 10min até chegar em casa. Desistimos. Algum tempo depois, fomos a uma festa na casa de um finlandês que tinha comprado 12 cadeiras e um monte de coisas para a própria casa no Ikea. Ele estava super feliz, pois achava que tinha feito um bom negócio, mesmo depois que duas cadeiras quebraram com seus convidados em cima (um amigo dele teve o cuidado de insinuar que a qualidade do produto era devido a fabricação chinesa do design sueco). Conversa vai conversa vem comentamos que pra gente não rolava de ir pq não temos carro. Mas adivinha o que descobrimos? O trem não para no Ikea, mas uma das 3 estações da cidade estação fica perto do Ikea.

Ainda tinha o problema de carregar as coisas, mas como eu estava querendo comprar um carrinho de feira, convenci o Marcos a colocarmos as coisas no carrinho na hora de voltar. Ao Ikea então! Pegamos um trem para Malmö, descemos numa estação chamada Hylie que é super modernosa e toda automática. Descemos no meio do nada, mas ao longe conseguimos ver o tal do Ikea. Tinha um caminho que parecia ser em linha reta até o prédio, mas era pelo meio do mato. Eu preferi dar uma voltinha maior e ir pela passagem de pedestres mesmo. Levamos de 15 a 20 min para chegar, em parte porque não dava pra entender direito o caminho e tinha uma vila de gnomos entre nós e o prédio. Não era uma vila de gnomos, mas sim os jardins. Aqui vc pode alugar um jardim para satisfazer suas necessidades botânicas se morar num apê. Mas de verdade, as casinhas para guardar o equipamento parecem casinhas de gnomos.

Ufa! Chegamos enfim ao Ikea, pelo lado de trás. Depois de dar a volta conseguimos enfim entrar naquele lugar. Era a visão dos infernos. Descobrimos o porque que Lund ficava deserta no sábado: todos iam ao Ikea. O mais engraçado é que existe um protocolo para usar o lugar, que todos pareciam estar familiarizados, menos nós. E na hora de explicar, a atendente não sabia muito bem o que explicar, pois para ele era como explicar algo muito simples. O primeiro andar, é o show room, onde vc olha o que quer, anota o código num papelzinho e pega no andar de baixo. Algumas coisas estão disponíveis já nesse andar para que vc pegue, geralmente pq estão na promoção e são coisas pequenas. Como eu e o Marcos só queríamos coisas pequenas e vimos um monte delas disponíveis para comprar, pegamos um carrinho e levamos lá pra cima. Só que a moça não explicou pra gente que não podíamos fazer isso e o Marcos ficou levando choque do carrinho o primeiro andar quase todo. Eu não entendi então porque eles colocam coisas para vc pegar no primeiro andar se não te deixam usar o carrinho. Eles querem que a gente carregue na mão?

Ok, passando o primeiro andar, o carrinho parou de nos dar choque e encontramos o restaurante bem no meio entre o show room e o andar de fazer compras. Eu já estava ficando com fome, e lembrando do filme do outro post, o Marcos achou melhor pararmos para comer. O restaurante do Ikea é um bandeijão. A fila era tão grande que eu achei que nunca iríamos comer, fora que só conseguimos entender o que era a comida pela foto, mas não sabíamos se a almôndega era de carne de vaca ou de porco. Eu acabei indo no frango, mas a única coisa que prestou foram as batatas. Realmente não dava pra entender passar todo aquele tempo na fila por aquela comida. Tinha gente com a família inteira. Eles tem até um carrinho para vc carregar 5 bandeijas ao mesmo tempo. Coisa de louco.

Depois de comer, fomos finalmente fazer as compras, mas isso eu só vou contar na quinta, pq senão o post fica grande demais.