quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Doutorado Tri-Possante

O Dudu pediu para eu postar um post sobre como é o doc aqui na Suécia e como ando sem ideias (inclusive de como abordar a minha tese grgrgrgrgrgrgrgr) resolvi então falar de um tema mega divertido, doutorado em vários lugares do mundo. Bom no meu caso eu posso falar da minha experiência no Reino Unido (onde iniciei o meu doc), Brasil e Suécia (tudo bem que aqui é sanduíche), alias talvez podemos ver o meu doutorado como um Tri-Possante Brutus!


Vou então falar sobre o doc em ordem cronológica e vou tentar não detonar o sistema de nenhum dos países assim como não vangloriar nenhum deles, até porque eu acho que qual sistema é melhor depende do perfil do aluno. A minha experiência no Reino Unido não foi das melhores, primeiro que tive uns problemas pessoais e depois porque sou uma pessoa meio orgulhosa e teimosa (algo que eu melhorei bastante nos últimos anos). O problema que eu vi no sistema inglês é que se você for bolar um projeto do zero, mesmo em conjunto com seus orientadores (como foi o meu caso), é muito difícil de você conseguir terminar à tempo, que no caso deles é 3 anos. Você pode até pedir mais tempo mas você não terá bolsa nos meses excedentes .Tanto é que a maioria dos alunos no Reino Unido entram para o doutorado com um projeto previamente pensado pelo orientador, não só isso, mas também com dinheiro para execução do projeto (ou seja já foi previamente avaliado por outras pessoas). Isso significa que no geral o doc para eles é como se fosse um treinamento em pesquisa, um sistema que particularmente não tem o meu perfil. Mas se você só tem 3 anos, isso significa que você não tem o luxo de perder o 1 ano pensando em um projeto e executando um piloto, e portanto a melhor saída talvez seja entrar em um projeto já "thought out" pelo seu orientador. Outra saída é trabalhar que nem um maluco, entre 60-80 horas por semana, que era o que rolava quando tava lá para tentar compensar esse um ano a menos (era surpreendente o número de alunos no trabalho depois das 22:00). Claro que tem maluco que consegue bolar o seu projeto, consegue dinheiro e o executa em 3 anos sem ter que trabalhar entre 60-80 horas por semana, mas como disse depende do seu perfil, eu sou meio devagar e portanto não consegui me enquadrar no sistema inglês, até porque 1000 libras para trabalhar no mínimo 60 horas por semana ninguém merece.


No Brasil a gente tem 4 anos, tudo bem que tem as disciplinas, mas uma ou outra realmente tem uma carga horária bem pesada e na minha opinião no Brasil a gente tem mais tempo para pensar o projeto antes de executa-lo. Eu acho que tenho um perfil mais parecido com o Brasil, mas sei que agora que estou chegando ao fim estou um tanto quanto irritado de ter que escrever a minha tese em português, ou seja vou ter que traduzir os artigos o que querendo ou não dá um puta trabalho e perde o meu tempo e o da minha orientadora que também vai ter que ler a tradução.
O doc na Suécia tem um perfil parecido com o Brasil, são 4 anos de doc com disciplinas, mas se você apresenta trabalho em congresso você recebe créditos e as disciplinas aqui são todas condensadas o que também ajuda. Aqui é que nem na Inglaterra o orientador tem que conseguir pagar o salário e projeto do aluno e acho que a maioria dos meus colegas aqui são alunos de doc de um projeto previamente pensado já, mas vou averiguar isso. Mas o que eu gostei daqui é que os alunos são contratados pela universidade então o tempo de doc já conta para aposentadoria deles e se eles não arrumarem emprego, tem seguro de desemprego, já que eles tem o equivalente a carteira assinada aqui, podem até tirar férias. Outra coisa que eu gostei muito é que aqui a maioria dos alunos não trabalham 60-80 horas por dia, ou pelo menos se trabalham tudo isso trabalham uma boa parte em casa. Outra coisa são raras as teses em sueco, todas são inglês, na verdade a tese deles aqui é uma compilação dos artigos que foram publicados ou estão prontos para ser submetidos, inclusive o aluno não precisa ser necessariamente primeiro autor dos artigos. Pelas teses que eu olhei eles são primeiro autores em 2-3 dos 4-5 manuscritos presentes na tese. Na verdade o que eu gosto daqui é que o grupo de pesquisa tem uma coletividade muito grande, o que eu não experienciei no Reino Unido, onde os alunos eram muito individualistas e competitivos (eles queriam mais era que você se ferrasse para ter menos um na hora das bolsas de pos-doc). Os alunos aqui não ficam competindo entre si e todos tentam ajudar um ao outro, muito parecido com o que rola no laboratório da minha orientadora no Brasil. Isso eu acho muito legal daqui, mas o mais legal é que aqui você é visto como um colaborador e não como um aluno, portanto eu aconselho qualquer um a vim fazer doc aqui na Suécia.
Dudu fique a vontade para perguntar o que quiser, não sei se era bem isso que você queria saber sobre a minha experiência por aqui.

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